No topo do vulcão


Nada do que eu vivi até agora nesta minha viagem se compara ao que eu fiz naquele sábado, 06 de junho. Acordei às 5h30 da manhã para às 8h estar aos pés do vulcão Villarrica (2.840m), em Pucon. Ali começaria a escalada. Eu e um grupo de mais nove pessoas e três guias vestimos nossas roupas especiais e rumamos vulcão acima.

 É difícil, muito difícil descrever tudo o que eu vivi naquelas oito horas e meia, entre a subida e a descida do vulcão. Fiz algo que eu achei que nunca seria capaz de fazer. Superei os limites que eu achava que tinha e vi que sim, é bem possível seguir em frente quando a gente quer. A caminhada foi longa e muito dura. Na primeira metade, uma íngreme subida por caminhos de pedra e areia. Duas desistências. Duas horas e meia depois, começamos a nos preparar para a escalada no gelo; mais uma desistência. Grampões nas botas, capacete, luvas especiais, estaca para o gelo. Para caminhar é preciso fincar os pés com força e usar o tempo todo a estaca. “Se escorregarem, mantenham a estaca junto ao corpo e finquem no gelo para poder parar”, nos ensinou o Wildo, o primeiro dos três guias. Acabou que não precisamos fazer isso, porque ninguém caiu. As horas foram passando e começamos a parar no caminho a cada meia hora, para descansar, comer e admirar a vista que, conforme íamos subindo, ia ficando mais bonita. Os 15 minutos finais foram os mais tensos. Muito vento e abismos de dar medo. “10 minutos agora”, gritou o Wildo. É nessa hora que o coração começa a bater mais forte e a adrenalina chega a mil. Agora faltavam mais cinco passos e, um atrás do outro, fomos chegando ao topo. Eu não acreditei. Não acreditei que havia, depois de seis horas, conseguido chegar até lá em cima e que estava ali, na cratera de um vulcão. Foi a emoção mais legal que tive, meus olhos se encheram de lágrimas só pelo simples fato de eu ter sido capaz de chegar até em cima. É uma coisa tão fantástica que você demora para assimilar. Do alto pude ver lagos, montanhas e os vulcões Llaima (3.125m), um dos mais ativos do Chile, e o Lanin (3.776m), na fronteira com a Argentina. O dia não poderia ser melhor; nenhuma nuvem no céu. Nessa época, muitos grupos não conseguem chegar ao topo devido às condições climáticas.

uma hora e meia de caminhada

uma hora e meia de caminhada

início do gelo. wildo e eu

início do gelo. wildo e eu

Foi uma vitória para mim. Mas ainda tínhamos a descida pela frente. E ela não seria fácil. De fato não foi. Foi quando pensei: que loucura que eu fiz!. O Wildo e o Henrique, o segundo guia, me ajudaram a descer. Eu estava exausta e com medo, mas muito, muito feliz e realizada. Valeu cada gota de suor derramado, cada pontada de dor nos dedos dos pés, as mãos inchadas, o medo, o cansaço, os lábios rachados pelo vento. Foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Foi a melhor sensação de liberdade que tive. Foi o dia em que eu realmente pude dizer: não me arrependo nem por um minuto de ter deixado tudo o que eu tinha no Brasil para botar o pé na estrada.
consegui

consegui

lanín ao fundo

lanín ao fundo

Mais

Pucon é uma cidade encantadora, aos pés do vulcão Villarrica (2.840m). Esta, sem dúvida, é a maior atração do lugar. Mas também há lagos, rios, outros parques nacionais e muitas termas (por ser uma região de grande atividade vulcânica).

Para ir aos parques nacionais e às termas, pode-se pegar um dos micro-ônibus azuis, que eu adoro. É muito melhor do que comprar os tradicionais tours. A paisagem até os lugares também compensa, é bastante rural.

Para subir o Vulcão, contrate uma das muitas agências da cidade. O preço fora de temporada fica na média de 30.000 pesos. As agências fornecem todo o equipamento necessário: roupas térmicas, mochilas especiais, capacete, gorro, luvas, grampões e estaca. Eu fui pela Backpakers, que fica ao lado do terminal de ônibus da empresa Jac.

Existem muitos hostels e hospedarias familiares em Pucon. O refúgio Península é o hostel mais confortável e é da rede HI. Fica na região mais nobre da cidade, a 100m do lago Villarrica. Os quartos compartilhados têm banheiro privativo e TV a cabo. A diária com café da manhã é 10.000 pesos fora de temporada.

O Backpakers (do mesmo dono da agência) é bem central e aconchegante. É onde a maioria dos mochileiros fica e custa 5.000 em quarto compartilhado sem café da manhã. Fiquei nos dois e recomendo o segundo, não só pelo preço, mas pela hospitalidade. O Cláudio, dono do lugar, é uma pessoa excepcional. Foi o lugar que eu mais me senti em casa nessa viagem. No sábado (6 de junho), o Chile jogou e ganhou do Paraguai pelas eliminatórias da copa e foi uma festa no hostel.

6 Comentários

Arquivado em Pelo mundo

6 Respostas para “No topo do vulcão

  1. leandro

    oi rê! que maravilha hein?! 😀
    literalmente provando que o mundo é de quem se atreve! 😉
    definitivamente,… parabéns!

  2. natascha otoya

    REEEEE!!!

    UAU!!!! Cara, subir um vulcão deve ter sido mto incrível mesmooooooo!!! E pelo gelo!!!

    Qdo eu penso em vc, minha amiguinha pequinina e tímida de Curitiba, enfrentando lagos e vulcões pelas Américas, sozinha, na cara e na coragem fico realmente com muito orgulho!!! Vc deve mesmo se sentir muito feliz e realizada – o que vc está fazendo é bacana demais e exige doses imensas de coragem e desprendimento, parabéns!

    Saudades de vc, estou gostando de acompanhar a trip pelo blog – mas ainda ta falatando aquele mapa, hein, hein?!?!

    xxx

    :: Natasccha Otoya ::

  3. LOLA

    Ola!
    Bravo! Viva la conquistadora del vulcon de Pucon! Avante! Que em La Paz terá o monte Chacaltaia de 5.000 metros, a pista de esqui mais alta do mundo!
    bjos, saudades, curta e se cuide!!!
    Lola

  4. Fabi

    Parabéns pela subida até o topo do Villarrica!!

  5. Fernanda

    guriaaa… que aventura!!!!!!!!! nem imagino a emoção… bjooo

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